EDUCADORA DE INFÂNCIA ESCREVE “MÃE BORBOLETA” PARA EXPLICAR OS EFEITOS DA QUIMIOTERAPIA


Desde que todo este drama aconteceu eu tenho sofrido com força…Cancro na mama direita, quimioterapia, cirurgia, mastectomia, radioterapia…
… mas não me lembro de sentir o meu coração palpitando de ansiedade como palpitou no dia em que dei a triste notícia que estava doente às minhas filhas…
Foi realmente a tarefa mais difícil pra mim, porque eu estava frágil, porque eu teria que dizer a elas que tudo iria correr bem, sem ter a certeza de que isso realmente aconteceria.
Elas confiam em mim, eu não lhes minto nunca, sou honesta, franca, verdadeira, sincera…sempre…nossa relação tem base forte na confiança mútua, justamente por isso…
…Eu sofri por dentro…sim, sorrindo por fora…mentindo pela primeira vez, porque, de fato, eu não sabia qual seria o desfecho desta história…o nosso futuro, até então, era tão incerto.
Busquei formas lúdicas para lhes contar, inventei diálogos na memória, escrevi textos que viraram bolas de papel no lixo enquanto eu não conseguia dormir…perdi o sono…sofri…pelo que poderia acontecer a elas.
Foram três intermináveis dias para conseguir encontrar esta maneira especial de lhes contar.
Eu ia precisar ainda mais delas, e elas de mim…Precisávamos estar inteiras! Sem lacunas, sem segredos!
Sou mãe presente, que se envolve, que dá carinho, pede cafuné…dou cambalhotas, conto histórias, brinco, sou ativa demais para passar sem ser vista com efeitos que me arrasariam o corpo e a mente…
Como explicar?
Uma mãe que outrora era tão presente e ativa, de repente jogada num canto amargando umas náuseas e uma fadiga sem fim? Como explicar a falta de força para dar colinho? A falta de visão e voz para contar uma história antes do soninho? Como explicar a falta de paciência que se instala quando as dores forem mais do que muitas e só me apetecer ficar silenciosa e sozinha num quarto escuro?
Com estas perguntas a morarem em mim, durante três dias tentei encontrar uma solução…
Chegou enquanto eu desenhava com a Juliana na mesa da sala de Jantar…Desenhava borboletas, como de costume…
LUZ!
A metáfora da borboleta, o seu ciclo de vida, seria perfeito para explicar parte do drama que eu estava começando a viver…E assim comecei a desenhar criando o texto em paralelo.
As primeiras ilustrações são ‘tensas’, ilustram perfeitamente a minha insegurança, o nervoso, o medo que eu estava sentindo…Eu não pintei com mil cores como geralmente faço… eu não colori porque não me sentia feliz, eu costumo usar as cores da alma, e nestes dias a minha estava cinzenta…  e de fato, eu não estava feliz tendo que contar aquela história…
Os traços que eu desenhei não eram, de todo, perfeitos, eram irregulares, tortos, definindo toda a dificuldade que tive neste momento…
Sábado a tarde, 31 de janeiro de 2015, sentei-me no sofá, uma filha de cada lado…Folhas soltas com os rabiscos àpostos. Língua afiada, coração na mão…lágrimas teimosas, sorrisos para acalentar e amenizar a dor, delas…Medo, insegurança…Pena…São tão pequeninas para uma notícia tão dura!
“Irão crescer fortes! Vão perceber o meu otimismo e confiar em mim…Elas sempre confiam em mim!”
Era uma ‘possível mentira’ necessária, apesar de toda a fragilidade eu estava sim otimista, e queria muito acreditar, como  as minhas filhas acreditaram, no final feliz da Mãe Borboleta… :)
Contando uma história de uma mãe que ‘vira’ borboleta, eu fui contando em paralelo alguns dos efeitos secundários que a ‘mãe’ poderia sentir durante o processo, adaptei a linguagem e fiz parecer que nada era dramático e que era um ‘mal’ necessário, visto que fazia parte da ‘transformação’…
A história da Mãe Borboleta é uma explicação lúdica para crianças (e não só) dos efeitos secundários da quimioterapia no tratamento do câncer.
Achei que deveria devolver ao Universo tudo o que recebi quando pude receber tratamento para permanecer aqui, estou grata agora que tudo está passando…por isso mostrei a história a um editora que imediatamente comprou a idéia, acreditou que seria uma bela ferramenta para ajudar tantas mulheres que trilharam por estes caminhos tortuosos…
Assim nasceu o livro Mãe Borboleta…cada um dos exemplares esta coberto de gratidão e respeito pelas dores de quem passa por esta doença avassaladora.
Feliz, sigo descobrindo outras tantas Mães Borboletas que, com otimismo, ultrapassam estes dias menos bons dentro do casulo… 😉
Sinopse:
“Uma mãe como todas as mães do mundo, mas que temia deixar de fazer ‘parte’ da natureza e precisou MUDAR! Passou a observar mais tudo a volta, de um jeito diferente, e de tanto observar começou a mudar… os cabelinhos voaram com o vento numa noite de luar…criou um casulo a sua volta, a mudança acontecia de dentro para fora…virou lagarta…comia muito…ficou inchada…ficou verde com enjoos…ficou farta!
Foi cuidada com esmero pelos amigos e familiares, teve sonhos malucos…dormiu…
O final? Feliz…e guardava uma bela surpresa, para aquela mãe que se transformou!”

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