Com câncer terminal e cega, mulher se casa em hospital em Brasília

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Em estágio avançado de câncer, a ex-cozinheira Shirley Jeany Muniz Luso realizou nesta quinta-feira (28) o sonho de se casar com o namorado em Brasília. O casal tem duas décadas de relacionamento e três filhos, de 3, 4 e 16 anos. A cerimônia aconteceu na capela do Hospital Universitário (HUB), durou uma hora e reuniu amigos e familiares. Foi o segundo evento do tipo feito no local em menos de uma semana.
Shirley conta que se mudou de São Luiz (MA) para Taguatinga Norte (DF) há um quase um ano, justamente quando apresentou os primeiros sintomas da doença. “Dormi em uma noite e no dia seguinte acordei cega de um olho. Meu irmão já morava aqui e disse que as coisas eram mais fáceis. Os médicos achavam que era um derrame ou doença.”
A mulher conta que arranjou um emprego e acabou deixando de lado as consultas médicas. Três meses depois teve um sangramento nariz e escurecimento da vista. Ela foi ao hospital, e os médicos suspeitaram que ela pudesse ter lúpus ou esclerose múltipla. Uma tomografia apontou um caroço atrás do olho, do tamanho de um limão pequeno. Quase 40 dias depois, o resultado: câncer.
“É de um tipo bem raro, que dá em 1 pessoa a cada 5 milhões. Eu comecei a perder a outra vista, e agora não enxerga mais de nenhum olho, só enxergo vultos. Não tem mais tratamento, não tem mais jeito. Estou fazendo radioterapia só para ter algum tempo a mais de vida”, afirma.
A ex-cozinheira diz que conversou com o companheiro e que ambos acharam que era hora de celebrar a união. O vestido, os doces, o buquê e a fotografia foram doados por meio de uma parceria feita pela Associação de Voluntárias do Hospital Universitário de Brasília.
“Se eu te disser que estou triste, estou mentindo. Estou muito feliz por tudo que está acontecendo na minha vida. Fico triste por estar cega, mas não pelo resto. Através dessa doença, pude viver muita coisa, conheci muitas pessoas, tive esse contato com o pessoal do hospital. O carinho, o amor que as pessoas têm por mim, é de um jeito que no mundo não existe mais”, conta.
Shirley entrou acompanhada do filho mais velho. A do meio e o caçula foram a dama de honra e o pajem. A mulher deve receber alta na próxima semana, quando completar 25 sessões de radioterapia, e diz querer aproveitar os dias futuros na companhia das crianças.
“Aos menorzinhos só digo que mamãe está doente. Não entendem o que é. O maior já sabe. O que eu tento, o que todo pai e mãe tenta, é deixar os meninos estabilizados, deixá-los ajeitados, para estarem preparados para a hora que acontecer”, afirma. “Fico em casa sozinha com os meninos. Eu cozinho, cuido deles, mesmo cega.”
A mulher diz não se sentir angustiada com a situação e ri quando as pessoas dizem que ela encara a situação com bom-humor. “O meu câncer não tem jeito, mas tem outros tipos de câncer que a pessoa fica sem pele, não respira. Eu ainda estou falando, andando. Agradeço a Deus.”
A ex-cozinheira passou por três sessões de quimioterapia. A cirurgia foi descartada, porque o câncer acabou se espalhando para todos os ossos da face. Ela toma morfina todos os dias para lidar com a dor.

Fonte: G1

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