LUTANDO CONTRA O CÂNCER

No ringue não se escolhe adversário. Tem de enfrentar quem vier.
O ensinamento é do pugilista e professor de boxe Nilson Garrido, 59. Há dez anos ele toca a Garrido Academia, um local de recuperação de dependentes químicos, acolhimento de moradores de rua e formação de atletas.
No começo, a academia contava com equipamentos improvisados, como pneus de caminhão, sucatas e uma geladeira velha. Hoje, a partir de doações, ele já conseguiu montar uma academia profissional.
Mas o boxe não vive só de porrada, conta Garrido.
— A nossa luta não é só pelo esporte. É uma luta pela vida, pela sobrevivência.
“Lutar” e “sobreviver” também são um exercício diário para Jenifer, Fabiani, Laís, Clarissa, Renata e Flavia, lutadoras contra o câncer.
No mês do Outubro Rosa, Garrido recebeu as seis mulheres para um ensaio fotográfico doPortal R7.
“A gente vê tanta reportagem sobre porrada e, de repente a gente vê uma coisa mais bacana ainda, que são pessoas encorajando outras pessoas”, diz ele.
A seguir, conheça as histórias de mulheres que lutaram, derrotaram e continuam peitando o câncer:
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Fabiani Araújo, 34 anos, descobriu o câncer em 2013: um sarcoma de ewing na região do ombro.
Durante os dois anos de tratamento, ela fez quatro cirurgias, 17 sessões de quimioterapia e várias internações. Nesta segunda-feira (19) ela realiza sua quinta cirurgia.
— Apalpando o meu corpo, eu descobri uma bolinha no meu ombro, superficial, uma bolinha interna. No mesmo dia eu fui no médico. Até chegar a um oncologista foram uns 20 dias. Acho que eu reagi rapidamente.
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“Eu nunca imaginei na minha vida estar aqui na academia, colocando uma luva de boxe e tirando fotos para o Outubro Rosa como uma vencedora contra o câncer. Isso me emocionou demais. (…) Uma vez que você está no ringue, não tem como sair sem lutar contra o câncer. Não tem como. Se você não partir pra cima, você é nocauteado”.
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Laís Santos Honório, de 31 anos, foi diagnosticada há um ano com carcinoma ductal invasivo, um tipo de câncer de mama. Ela fez cirurgia para retirar parte de uma das mamas e depois partiu para as sessões de quimioterapia (oito) e radioterapia (33 no total).
Hoje está curada! E faz consultas de acompanhamento a cada três meses.
— Não tem como você se deixar levar pelo câncer, e a primeira coisa que eu fiz foi tentar vencer e colocar Deus na frente, ir pra cima mesmo.
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“O boxe se aproxima muito da nossa realidade, da luta mesmo, de vencer, de batalha, ter força, coragem, porque não é fácil o processo, é bem doloroso, mas com força, garra, a gente consegue”.
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Jenifer Gimenez, de 29 anos, está em plena batalha. Ainda falta uma sessão de quimioterapia para completar o tratamento contra um linfoma que ela descobriu em maio deste ano.
— A gente tem que ser forte pra suportar, e o boxe retrata muito isso, essa força que a gente tem que ter pra encarar o câncer de frente.
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“A gente vive uma luta por dia, uma luta a cada momento, principalmente quando recebe a notícia, e também quando começa a perder os cabelos. A família é muito importante e é ela que nos ajuda. É uma equipe. Tem que botar o câncer no chão”.
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Renata Vittorato, 39 anos, descobriu um câncer de mama em 2012. Foram quase três anos de batalhas diárias, até se curar da doença, há seis meses.
— Eu tive uma reação muito oposta a de muitas pessoas. Eu encarei com muita leveza. Fui atrás do problema rapidamente e quis resolver. Não fiquei focando no problema. Eu falei: “vamos fazer o que tiver de fazer, eu vou lutar para isso, e vou vencer”. Eu nunca pensei que iria morrer. Um dia de cada vez, foi desse jeito que eu levei.
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Hoje Renata faz parte do Banco da Autoestima, uma iniciativa de mulheres que passaram pelo câncer. O grupo monta kits de beleza para mulheres que estão enfrentando a quimioterapia, com dicas de estilo e maquiagem.
— Eu hoje estou curada, mas continuo vivenciando e falando do câncer. A batalha continua, nos exames, no dia a dia e quando a gente ajuda as outras pessoas. Eu vejo o câncer todos os dias. É uma luta, é uma batalha, e quase sempre vitoriosa. Então vá atrás de informação, se cuide, conheça seu corpo, se conecte com seu corpo.
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Flavia Flores, 38, descobriu um câncer de mama há três anos, durante um autoexame.
— A caminhada do boxe tem tudo a ver com a nossa. A gente está trabalhando, está lutando pra vencer, pra viver, pra ter mais tempo com a nossa família, com nossos amigos, e eles também. Eles estão conseguindo juntar aqui amizade, família, e é tudo o que a gente também precisa.
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“A gente pode perder o cabelo, os cílios, a sobrancelha, a cor, a forma do rosto, mas a gente nunca poder perder a autoestima. Se a autoestima estiver bem, o tratamento vai bem também. Se a gente estiver bem com a gente mesmo, perto de pessoas especiais que fazem bem pra gente, a gente só tem a vencer”, diz Flavia, que hoje está curada.
Em 2013, ela lançou o livro Quimioterapia e Beleza em que relata sua luta contra o câncer, e hoje se tornou referência ao ajudar outras mulheres com dicas de beleza e bem-estar.
Assista ao depoimento das lutadoras e ao making of do ensaio
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Clarissa Karaoglan, 33, descobriu um câncer no ovário há um ano. “Quando eu descobri foi tudo muito rápido, cirurgia de emergência, internações. Eu fiquei 40 dias internada no hospital, fiquei muito debilitada, mas quando saí para começar a quimio, um mês depois, eu já estava me sentindo vitoriosa.
Seu tratamento com quimioterapia acabou em maio passado, e hoje ela está curada
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“Por vários momentos durante a batalha, a minha vontade era de socar alguma coisa, socava no caso um travesseiro no hospital. Acho que o boxe tem tudo a ver, é onde a gente descarrega toda a nossa raiva e nos momentos mais difíceis”, diz Clarissa. 16
Durante o ensaio, o pugilista Garrido fez a promessa de cortar seus cabelos para o projeto Rapunzel Solidária, que recebe doações para ajudar pessoas com câncer.
— É de lutadoras como vocês que precisamos realmente, para incentivar outras pessoas que estão enfermas a acreditar que a vida continua.
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