Imunoterapia traz esperança para tratamento de câncer agressivo



Resultados de testes clínicos para o tratamento de melanoma e câncer de útero foram classificados como 'animadores e impressionantes' pelos cientistas


O médico Christian Hinrichs (L), assistente clínico no Center for Cancer Research at the National Cancer Institute, e sua paciente, Aricca Wallace, são vistos em 29 de maio de 2014
O médico Christian Hinrichs, assistente clínico no Center for Cancer Research at the National Cancer Instituto, e sua paciente, Aricca Wallace, sem traços de câncer de colo de útero após tratamento com imunoterapia(Saul Loeb/AFP/AFP)
Resultados de estudos clínicos confirmam que a imunoterapia, classificada de Avanço do Ano pela revista Science, em 2013, pode fazer com que pacientes em estágio avançado de câncer sobrevivam por mais tempo do que se esperava - em alguns casos, até mesmo erradicando a doença. As descobertas foram divulgadas na Conferência da Sociedade Americana de Oncologia Clínica, em Chicago, nos Estados Unidos, que termina nesta terça-feira. A terapia foi usada no tratamento de melanoma, o tipo mais agressivo de câncer de pele, e de câncer de colo de útero, com resultados "animadores e impressionantes", de acordo com os cientistas.
O objetivo da técnica é curar a doença pela estimulação do sistema imunológico do paciente. Conhecida há cerca de cinquenta anos, ela só começou a apresentar resultados satisfatórios há pouco tempo, quando os cientistas ganharam mais conhecimento sobre o funcionamento do sistema imunológico e a terapia voltou a chamar a atenção. Descobriu-se que alguns componentes, como a substância CTLA-4, que impede as defesas do organismo de funcionar com força total, precisariam ser inibidos para o combate eficaz aos tumores.
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Foi o que fizeram médicos americanos que combinaram dois medicamentos diferentes para tratar melanoma em 53 pacientes. A droga Yervoy, também conhecida como ipilimumab, aprovada para o uso no combate ao câncer desde 2011, e a nivolumab, que ainda é experimental, foram usadas para bloquear a substância. Nos testes clínicos, 79% dos pacientes estavam vivos após dois anos e 85% após um ano - há pouco tempo, apenas 10% dos pacientes sobreviviam a um melanoma em metástase por esse período.
Em outros testes com o pembrolizumab, também chamado de MK-3475, feitos com 411 pacientes, 69% estavam vivos após um ano. Esse medicamento atua na substância PD-1, com efeito semelhante à CTLA-4.
"Isto é realmente revolucionário e, agora, os tratamentos do melanoma estão ficando tão bons que estamos vendo pela primeira vez um avanço significativo contra tumores muito difíceis de tratar", afirmou Steven O'Day, professor associado da escola médica Keck, da Universidade da Carolina do Sul, nos Estados Unidos.
Cultivo de células - Cientistas do Instituto Nacional de Saúde (NIH, na sigla em inglês) também anunciaram que uma nova técnica - que consiste em retirar células imunológicas de um tumor e cultivar bilhões delas em laboratório para reinseri-las no corpo do paciente - teve sucesso em duas entre nove pacientes.
Uma delas é Aricca Wallace, uma americana de 34 anos que está livre de um câncer de colo de útero há 22 meses. Em fevereiro de 2012, diagnosticada com o câncer que havia se espalhado para o abdômen e peito, Aricca começou a fazer testes com imunoterapia. De acordo com seu médico, a quimioterapia era incapaz de eliminar sua doença. Ela participou de um grupo composto por cientistas do NIH em uma clínica nos arredores de Washington.
Os médicos eliminaram um de seus tumores e coletaram células imunológicas chamadas linfócitos T. A paciente passou por uma semana de quimioterapia que desativou seu sistema imunológico para que os médicos pudessem injetar 100 bilhões de seus linfócitos T, cultivados em laboratório. Tomou doses de um medicamento que ajuda a desenvolver células imunológicas, mas provoca intensos efeitos colaterais, como hemorragias, vômitos, pressão baixa, febre e infecções.
Depois de quatro meses, seus tumores desapareceram. Vinte e dois meses depois de iniciado o tratamento, ela não exibe traços da doença.
Aricca foi a primeira pessoa para quem o novo tratamento funcionou. Outra americana também viu desaparecer seu câncer de útero e, um ano depois, não apresenta a doença. Os testes foram feitos em nove pacientes que participaram dos testes clínicos. "Com apenas nove pacientes, não podemos dizer com certeza até que ponto este tratamento funciona", explica Christian Hinrichs, do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos. "Tudo o que sabemos é que pode funcionar."
Efeitos colaterais - A imunoterapia ainda está sendo testada em grupos pequenos e funciona para uma minoria de pacientes. Além disso, apesar de algumas drogas serem bem toleradas, grande parte provoca fortes efeitos colaterais, principalmente quando os medicamentos são combinados, para gerar um grau de eficácia máximo.
Resultados apresentados na Conferência mostraram que o medicamento Yervoy é eficaz em reduzir a recorrência de melanomas após os tumores serem removidos. Três anos depois da cirurgia, 46,5% dos pacientes permaneciam sem a doença, comparados aos 34,8% que receberam um placebo. No entanto, cerca de metade dos 471 pacientes que usaram a droga em quantidades maiores que as aprovadas pela agência Food and Drug Administration (FDA, na sigla em inglês) pararam o tratamento por causa dos efeitos colaterais e cinco deles morreram em decorrência desses efeitos. Colites e hemorragias são os efeitos mais conhecidos.
A imunoterapia também parece funcionar contra câncer de pulmão, rim, bexiga, pescoço, ovário e rim. Especialistas afirmam que o novo campo tem um mercado potencial de bilhões de dólares.
(Com AFP)

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