Amamentar depois da Radioterapia

Dentre as dezenas de notícias que recebemos quando estamos tratando um câncer, teve uma que continuou martelando na minha cabeça. Fui superando cada etapa e olhando sempre o que tinha de bom para me apegar a isso e seguir em frente. No entanto, teve  uma , “uminha”, que mesmo olhando o lado positivo (maior participação do pai, não ter que ser só eu a levantar à noite, não ficar com peito caído, etc) não consegui deixar de pensar: o fato de talvez não poder amamentar porque fiz Radioterapia!
Cada vez são diagnosticadas, com câncer de mama, mulheres que ainda não tiveram a oportunidade de ser mamães. Algumas ainda nem sequer pensaram nisso. Sim, recebo e-mails de meninas-mulheres que lutam contra a doença aos 19/20 anos! Quando fiz a radioterapia nunca fui atendida pelo mesmo profissional por isso nunca consegui esclarecer muito bem este assunto e não encontrei nada na literatura.amamentar depois da radioterapia
Por isso, para nos esclarecer, convidei a Dra. Lilian D’Antonino Faroni, Médica Radio-Oncologista da Oncologia D`Or e do INCA
Afinal podemos amamentar ou não, quando se tem um filho depois de ter feito radioterapia?! 
 Dra., pode elucidar-me sobre este assunto?
As mulheres com Câncer de Mama em estádio inicial, após decisão do Mastologista e da própria paciente, podem ser submetidas a tratamento cirúrgico conservador, ou seja, retira-se apenas o segmento acometido. Nestes casos, quase sempre está indicado um tratamento complementar de Radioterapia, que é uma prevenção para reduzir a chance de recidiva local da doença. Com relação à chance de produção de leite na mama irradiada, existem, por incrível que pareça, poucos trabalhos na literatura sobre o tema, mas uma revisão recente mostra que 30 a 50% das mulheres produzem leite na mama tratada. Nem todas são capazes de amamentar, já que a produção pode ocorrer, mas não ser suficiente para o bebê. Claro, que tudo isto é para a mama que foi tratada com Radioterapia. A mama contra-lateral, a que não recebeu tratamento, continua sua produção normal.
Poder  ou não poder amamentar depende dos protocolos de radioterapia
Sabe-se que quanto maior a dose de Radioterapia, menor é a chance da produção de leite acontecer. O problema é que as mulheres mais jovens, são justamente a que recebem doses maiores. Um tratamento padrão envolve tratar toda a mama, seguido de um reforço apenas no quadrante previamente afetado, tratamento médio de 30 aplicações.
O tempo entre o tratamento com radioterapia e a gravidez influencia?
Não existe essa relação, porém, após 6 meses do tratamento é que a mama retorna à sua coloração e consistência normal.
Existe algo mais que tenhamos que ter em conta?
Depende não somente da Radioterapia, mas também da cirurgia, já que quanto maior a área operada, menor a chance da mesma amamentar nessa mama. Outros fatores como tabagismo, obesidade, doenças do colágeno e Diabetes são fatores que pioram os efeitos colaterais da radioterapia, e consequentemente podem diminuir as chances dessa mulher amamentar.
E se a mama produzir o leite, mesmo assim existe algum risco?
 O leite produzido por uma mama irradiada é o mesmo leite! Talvez em menor quantidade, mas a qualidade é a mesma.
Obrigada Dr.a Lilian D’Antonino Faroni pela sua participação.


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