USO DE ANABOLIZANTES E SUPLEMENTOS

HEPATOLOGIA DO MILÊNIO DISCUTE USO DE ANABOLIZANTES E SUPLEMENTOS

Juliana Conte
Uso indiscriminado de suplementos alimentares e seus malefícios para o fígado, prescrição incorreta de antiinflamatórios para tratar os problemas da dengue, zika e chikungunya, desmistificação das dietas “detox”, além dos novos tratamentos disponíveis para a Hepatite C são os principais temas que serão discutidos no 18ª Simpósio Hepatologia do Milênio, que começa hoje (22/07) em Salvador e segue até o dia 24. Coordenado pelo médico hepatologista Dr. Raymundo Paraná, o evento reunirá mais de mil especialistas de diversas unidades da federação, além de países latino-americanos, Angola e Portugal.
Segundo Paraná, por conta da forte epidemia de dengue e das outras viroses associadas que atingiu o país no início do ano, a Sociedade Brasileira de Hepatologia considerou necessário esclarecer alguns aspectos em relação à prescrição de medicamentos e seus possíveis efeitos para o fígado. “Com os pronto-socorros lotados pode acabar havendo confusão. Muitos pacientes estão sendo medicados para viroses com antiinflamatórios de forma desnecessária e perigosa. Eles não possuem essa finalidade, pois podem causar hemorragias. Existem também informações incompletas ou até mesmo erradas acerca de outros analgésicos, como dipirona, paracetamol e o AAS. A aspirina na dengue não deve ser usada por risco de febre hemorrágica. Entretanto, ela não causa nada ao fígado. O paracetamol pode ser hapatotóxico (causar problemas ao fígado), mas ele só causa malefícios em doses muito elevadas, ou seja, acima de 3 ou 4 gramas diários da droga, o equivalente a seis comprimidos de 500mg”, esclarece.

Em relação às dietas detox, Paraná é taxativo: elas não funcionam. Podem até ajudar na mudança de comportamento dietético , mas não possuem o poder de desintoxicar o fígado.Falsos detox
Sem nenhum respaldo científico, dietas para a modelação do corpo e a perda de peso em excesso ou ao longo de muitos anos expõe a população ao risco de lesões hepáticas. A questão não é colocar folhas de couve e pepino para bater no liquidificador. Isso não faz mal. Porém, também não vai desintoxicar o organismo como se preconiza. “Não há nenhuma pesquisa científica falando sobre essas dietas e as pessoas tomam como se fossem algo milagroso, que funciona. O problema, na verdade, é o que surge a partir disso. Aí decidem colocar um agente termogênico para queimar gordura e nesse agente há uma série de substâncias que nunca foram estudadas. Não dá para prever o que pode acontecer. Os serviços de hepatologia do país estão cheios de pacientes com esses problemas.”
Outra proposta sem comprovação científica é a utilização de medicamentos para a modelação do corpo e a perda de peso. Nessas práticas, popularmente chamadas de “medicina do fitness”, encontram-se os tratamentos anti-aging (anti–idade) e outros para ganho rápido de massa muscular. Tais métodos costumam usar fórmulas  e/ou hormônios anabolizantes em excesso ou por longo tempo,  o que comprovadamente expõe a população ao risco não só de lesões hepáticas, como também de outros órgãos.
Também se utilizam hormônio de crescimento (GH) e  Oxandrolonauma droga bastante conhecida e muito utilizada pelos praticantes de musculação. Em tese, tais substâncias deveriam ser vendidas mediante a apresentação de receita médica com cuidadoso seguimento de um endocrinologista para tratar doenças específicas. Nem sempre é assim. “Muitas vezes, quando há prescrição, essas pessoas escondem os efeitos colaterais, agem de má-fé. E os malefícios são muito claros. Podem causar desde morte súbita, já que há hipertrofia do músculo cardíaco, até distúrbios de coagulação. O paciente passa a sangrar por diversos órgãos do sistema, como no cérebro, podendo sofrer um AVC hemorrágico.”
Novos tratamentos
A partir de agosto, novas medidas terapêuticas para tratar da Hepatite C estarão disponíveis no SUS (Sistema único de Saúde). Os medicamentos que são administrados por via oral e têm chance de cura entre 95% e 100% representam um grande avanço para conter a doença que acomete mais de 2 milhões de pessoas no Brasil.
“Trata-se de um tratamento muito caro, e por isso estamos comemorando sua chegada na rede pública. Para o SUS, estima-se um gasto de US$ 10 mil por paciente. Na rede privada pode chegar a US$ 70 mil. Mas os benefícios valem. Sua utilização é por via oral e com duração de 12 semanas ao invés de 48, como era anteriormente. A chance de sucesso cresceu muito. Outro ganho que teremos é para os pacientes que antes não poderiam ser tratados porque não conseguiam tolerar os efeitos adversos dos medicamentos. Agora eles passarão a ter chances reais de cura”, finaliza o hepatologista.
Juliana Conte   Dr. Drauzio Varella 

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